​"Cabe-nos a tarefa irrecusável, seriíssima, dia a dia renovada, de - com a máxima imediaticidade e adequação possíveis - fazer coincidir a palavra com a coisa sentida, contemplada, pensada, experimentada, imaginada ou produzida pela razão." Goethe​

DA_PRESSÃO

É tão tarde que já quase amanhece, mas Deus ou Morfeu não me querem dormindo.
Estive a pouco com a lua, mas, francamente, não suporto mais essa mania que ela tem de me fazer chorar, melhor ignorar/engolir também!
Antes seria estranho afirmar, mas, não ouço música há dias, nem faço algum som, agora me cansam, falar, ainda mais...
Talvez tenha decidido escrever para tentar desabafar sem ter que pronunciar, sei lá, talvez venha a guardar para que me sirva de bússola no dia em que​ eu superar o que eu nem sei o que seja. Talvez guarde e releia vez ou outra para que nunca mais venha a me descuidar tanto assim.
Hoje, depois de dias, não me doeram tanto os olhos, ainda pesam, mas caminharam lentos entre algumas cenas e letras a minha volta, enchendo-se de pensamentos, porém, nenhuma coragem.
Ela está neste rascunho...
Não há sabor mais amargo do que o de desacreditar de si próprio... Bom, se houver, imploro por não provar.
A tristeza não é maior porque sinto um nada imenso... Se um dia fui, hoje não sou mais. O pior de tudo é essa dureza em quebrar, mesmo que estando em cacos, pois é assim que me sinto, milhares de cacos presos a uma vida que nem sei mais.
Os relógios quebraram, eu enlouqueci, todos estão cegos e um anjo ainda precisa de mim...
Pânico sem reação.
Nas vezes em que quis responder, não soube como. Noutras raras, até encontrei alguma justificativa, mas me ​faltou acreditar.
O medo é abissal.
O estômago agora é como um liquidificador cheio de pedras, as mãos tremem mais que de costume e os olhos eu nem sei mais. Dias atrás quando os vi no espelho, não os reconheci. Estão diferentes, indiferentes, insistentemente magoados... (Contradições a parte e em toda parte.)
Vozes malucas me sugerem caminhos que arrastariam mais vidas à dor e graças a Deus ainda me resta alguma consciência. Ignoro. Ouço de novo, ignoro, mais uma vez e outras tantas, sugerem alguma salvação e machucam algum outro tanto... Deito... Não porque seja bom, mas porque me parece mais fácil.
Já fingi várias vezes não estar acordada, para não ter que dizer, comer ou correr o risco de evidenciar aos outros o quão miserável me sinto. Em outras, fingi estar acordada, atenta e a par do que me dizia​m...
Claro que penso na tristeza alheia e isso me apavora. Enquanto estiver em mim, mesmo que não controle, tenho o controle.
Em silêncio, no mais profundo do coração, peço perdão para tantas gentes por saber que não posso acrescentar nada a elas.
O medo agora é de lhes tirar algo.
Não sei explicar, também não quero porque cansa e de nada iria adiantar.
Nesse exato momento uma coruja pia lá fora e isso me faz bem... Estar assim não apagou em mim a gratidão. Sei dos milagres que estão acontecendo, só acho que não mereço mais fazer parte. Eu não me enquadro mais a vida.
Queria tanto ter coragem de falar o que não sei, mas é amor. Tenho tanto amor por algumas pessoas e isso me faz chorar infinitamente mais que a lua.
E é por amá-los tanto que quero-ia-devo estar longe, pois sei que merecem mais... Sou nada, um nada imenso desajustado dolorido e pesado.
Hoje vejo tanta glória na morte. Imagino a paz dos que dormem... Mas, nunca me tornaria uma suicida, pois nasci dotada de algumas grandes covardias...
Hoje eu quis mesmo responder algumas vezes, mas em nenhuma delas soube o que dizer. Encontrar explicação para o que não sei e também mesmo se soubesse, não faria diferença.
Tudo parece estar abissal e irremediavelmente perdido.
Todos os ossos novamente me doem.. Caos dentro e fora de mim. As obrigações ainda são a minha salvação.
Não estou bem nem mal, estou nada. E nem quero saber de mim, por enquanto sigo no automático d​as coisas que simplesmente não posso parar.
Menos um dia... Gratidão pelo o que tive até aqui. Medo do que ainda está por vir.


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